Insônia e arritmia estão conectadas por mecanismos fisiológicos bem estabelecidos, principalmente via alteração do equilíbrio autonômico, aumento de hormônios do estresse e piora inflamatória.
Nem toda insônia causa arritmia, mas o sono cronicamente pobre aumenta a probabilidade de eventos e pode piorar condições cardíacas já existentes.
Neste post, você vai entender como essa conexão funciona e quais sintomas são um sinal de que você deve buscar avaliação médica para prevenir complicações.
O que é insônia?
Insônia é a dificuldade em iniciar o sono, em mantê-lo ou em ter um sono reparador, mesmo quando há oportunidade para dormir.
A insônia pode ser transitória (algumas noites), de curto prazo (semanas) ou crônica (mais de três meses).
As causas mais comuns incluem:
- estresse;
- alterações de rotina;
- uso de cafeína ou certos medicamentos;
- doenças psiquiátricas como ansiedade e depressão;
- condições médicas que atrapalham o sono.
A insônia prejudica a recuperação física e mental que normalmente acontece enquanto dormimos, e isso tem impacto direto nos sistemas que regulam o coração. Portanto, ela compromete processos essenciais de reparo e regulação do organismo.
O que é arritmia?
Arritmia é qualquer alteração do ritmo cardíaco. O coração pode bater mais rápido, mais devagar ou de forma irregular.
Além disso, existem arritmias benignas como algumas extrassistoles isoladas e arritmias potencialmente graves como fibrilação atrial ou taquicardia ventricular.
Os sintomas variam:
- palpitações;
- sensação de falha no peito;
- tontura;
- tesmaio;
- em casos mais graves, falta de ar ou dor no peito.
Arritmias podem surgir por problemas estruturais do coração, desequilíbrios elétricos, alterações hormonais, drogas ou por fatores que alteram o equilíbrio autonômico do corpo.
Nesse último conjunto de causas possíveis para a arritmia, o sono ruim é um desses fatores que podem desestabilizar o equilíbrio do corpo.
Como a insônia pode influenciar o ritmo cardíaco
A ligação entre sono e ritmo cardíaco passa por mecanismos fisiológicos bastante conhecidos. Durante o sono profundo, predominam processos de descanso, caracterizados como redução da frequência cardíaca, queda da pressão arterial e ativação do sistema nervoso parassimpático, o freio do corpo.
Quando o sono é interrompido ou superficial, há maior atividade do sistema nervoso simpático, o acelerador, com aumento de adrenalina, cortisol e variação do tônus autonômico.
Essa alternância crônica entre ativação e repouso tende a aumentar a irritabilidade elétrica do coração, facilitando o surgimento de palpitações e arritmias.
Em resumo, o sono pobre significa mais estímulo para o coração e menos tempo para reparo, o que favorece alterações do ritmo cardíaco.
O papel do estresse, da ansiedade e dos hormônios
A insônia frequentemente caminha ao lado da ansiedade e do estresse. Esses estados elevam níveis de hormônios como cortisol e catecolaminas (adrenalina), que aumentam a frequência cardíaca e a excitabilidade das células cardíacas.
Além disso, a vigília noturna e a ruminação mental mantêm o corpo em estado de alerta mesmo deitado, tornando o ambiente elétrico do coração menos estável.
Distúrbios do sono que mimetizam ou pioram a insônia: apneia do sono
Nem todo sono ruim é insônia primária. Quem tem apneia obstrutiva do sono, por exemplo, acorda repetidamente por ocorrência de breves paradas respiratórias, tem sono fragmentado e, frequentemente, sente-se sonolento de dia.
A apneia está fortemente associada a arritmias porque provoca quedas e picos bruscos de oxigenação, alteração autonômica e inflamação.
Se a pessoa tem ronco forte, pausas respiratórias, sonolência diurna ou interrupções do sono, vale a pena investigar, pois o tratamento da apneia frequentemente melhora tanto o sono quanto o risco de arritmias.
Quando insônia e arritmia se relacionam?
Não é toda pessoa com insônia que terá arritmia. O risco aumenta quando:
- o problema é crônico;
- há doenças cardíacas prévias;
- há hipertensão;
- há diabetes;
- o paciente tem idade avançada;
- há consumo excessivo de estimulantes como cafeína ou certos remédios;
- há uso de drogas que afetem o ritmo cardíaco.
Em pacientes com outros fatores de risco cardiovascular, a insônia funciona como um agravante que facilita o aparecimento ou a piora de arritmias.
Portanto, a insônia crônica deve ser considerada um fator de risco modificável, especialmente em quem já tem doenças cardíacas.
Como reconhecer sinais de alerta
Alguns sintomas merecem atenção imediata:
- palpitações frequentes;
- sensação de batimento irregular por longos períodos;
- tontura;
- desmaio;
- dor no peito ou falta de ar.
Palpitações que acordam o paciente à noite ou que aparecem associadas à sensação de ansiedade persistente também exigem avaliação. Se houver história de doença cardíaca, priorize avaliação cardiológica.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico exige investigação conjunta do sono e do coração. Os exames cardíacos incluem:
- eletrocardiograma (ECG);
- monitorização ambulatorial (Holter 24–48h ou registradores mais prolongados);
- quando indicado, testes de esforço ou ecocardiograma.
Para investigar os problemas do sono, a polissonografia, o exame de sono, é o padrão ouro quando há suspeita de apneia. Já a actigrafia e questionários ajudam a avaliar padrões de sono e insônia.
Tratamento e manejo integrado
O tratamento ideal é multidisciplinar, quando cardiologista e especialista em sono ou neurologista trabalham juntos.
Para a insônia, a primeira medida é um protocolo de higiene do sono, que inclui estabelecer uma rotina regular, reduzir telas antes de dormir e evitar cafeína à noite.
Outras medidas possíveis para melhorar o sono são terapia cognitivo-comportamental para insônia (CBT-I) e, quando necessário, medicação de curto prazo sob orientação médica.
Para arritmias, o tratamento varia conforme o tipo. A indicação do cardiologista pode variar desde observação, controle de fatores precipitantes, medicações antiarrítmicas, até procedimentos como ablação em casos específicos.
Dicas práticas para reduzir os riscos
- mantenha um horário regular para dormir e acordar, mesmo nos fins de semana;
- evite cafeína e estimulantes após o fim da tarde;
- reduza exposição a telas, como celular e TV, pelo menos 1 hora antes de deitar;
- pratique atividade física regular, mas não imediatamente antes de dormir;
- procure ajuda se houver ronco alto, pausas respiratórias ou sonolência diurna excessiva.
Seguir essas medidas melhora o sono e pode reduzir o risco de arritmias associadas à privação de sono.
Quando procurar um especialista?
Procure avaliação médica se palpitações, tonturas, desmaios, dor no peito ou falta de ar estiverem presentes, ou se a insônia for persistente por mais de algumas semanas e afetar a qualidade de vida.
Se há histórico de doença cardíaca, hipertensão ou diabetes, comece a investigação imediatamente. Um cardiologista pode orientar sobre exames e, se necessário, encaminhar para estudo do sono.
Se você tem insônia persistente, palpitações ou histórico de doença cardíaca, marque uma consulta com o Dr. Cídio Halperin para montar um plano integrado de tratamento que envolva cardiologia e manejo do sono.
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